Pedágio urbano no horizonte
por O Estado de S.Paulo
A Prefeitura de São Paulo incluiu a cobrança de pedágio urbano no edital da Secretaria de Transportes para um plano que visa a melhorar a fluidez do trânsito no chamado centro expandido, como mostrou o Estado (1/8). O fato de ter aparecido num documento técnico oficial, que incluiu a estimativa do custo de implantação (R$ 15 milhões) e sua área de impacto (233 quilômetros quadrados), mostra que o tema está no horizonte da administração municipal, a despeito da ojeriza que os governantes e os políticos em geral têm de discuti-lo abertamente, além do mais em ano de eleição.
O atual prefeito, Gilberto Kassab (PSD), já disse reiteradas vezes que o pedágio urbano não será aprovado em sua gestão. Segundo ele, é um "compromisso" assumido com a cidade.
A situação não deve mudar depois da eleição, pois os principais candidatos à sucessão de Kassab já manifestaram oposição à cobrança. Para Fernando Haddad (PT), por exemplo, o pedágio inibiria a "circulação de riqueza e de pessoas" na cidade - como se os congestionamentos já não fizessem isso todos os dias. José Serra (PSDB), por sua vez, defende, assim como Haddad, que é preciso primeiro melhorar muito o transporte coletivo - algo que dificilmente ocorrerá nesta era geológica - para só depois pensar em pedágio.
As reações políticas são compreensíveis, considerando-se as pesquisas de opinião que desde sempre mostram franca oposição dos paulistanos ao pedágio urbano, pois já convivem com inúmeras outras taxas e restrições ao tráfego.
Em janeiro, porém, a presidente Dilma Rousseff sancionou lei que autoriza as prefeituras a impor o pedágio, ressaltando a urgência do problema. Os prefeitos não tardaram a criticar as "contradições" do governo federal, que avalizou a limitação à circulação urbana dos automóveis ao mesmo tempo que, ao reduzir impostos, estimula a compra de carros.
Na Câmara Municipal de São Paulo, tramita um projeto que prevê a cobrança de R$ 4 como pedágio no centro expandido. O edital da Prefeitura menciona o valor de R$ 1. Para especialistas que defendem o pedágio, a tarifa ideal deve ser superior a R$ 4, pois algo abaixo disso acabaria sendo naturalmente incorporado pelos motoristas como apenas mais um gasto, ao lado dos custos de estacionamento, combustível e inspeção veicular.
Ou seja: não basta que haja o pedágio, é preciso que a tarifa seja de fato inibidora. Para os adversários da ideia da cobrança, uma tarifa cara atingiria somente os motoristas com menos recursos. "Quem é pobre e não conseguir pagar vai ceder todo o viário para os que têm condições", protestou Horácio Augusto Figueira, mestre em transportes pela USP.
No entanto, várias metrópoles do mundo já adotaram o pedágio urbano, e em alguns casos a tarifa ultrapassa o equivalente a R$ 25, como em Londres, sem grandes protestos - a redução imediata de 25% nos congestionamentos foi o bastante para convencer os londrinos do acerto da medida.
Em março passado, a cidade de São Paulo atingiu a marca de 7 milhões de veículos - que formariam uma fila de cerca de 21 mil quilômetros de extensão, para uma rede viária asfaltada de apenas 17 mil quilômetros e sem a respectiva integração com outros sistemas de transporte. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas mostrou que a cidade de São Paulo perde R$ 55 bilhões por ano e deixa de produzir R$ 27 bilhões graças aos congestionamentos.
Quase 70% dos paulistanos consideram o trânsito da capital "ruim ou péssimo", dizem pesquisas recentes, e em média o motorista gasta inacreditáveis 2 horas e 42 minutos para se deslocar diariamente.
Só esses números deveriam bastar para perceber a dimensão do problema. "O prejuízo que cada um de nós tem com a ausência de um pedágio urbano é bem maior do que o preço dele. São o tempo e a saúde perdidos", argumentou o arquiteto e urbanista Cândido Malta.
Resta esperar que, enfim, apareça algum administrador com coragem para deixar de lado considerações eleitoreiras e reconhecer que a limitação ao trânsito de carros no centro de São Paulo não é uma mera discussão bizantina. É uma necessidade inadiável.
Em discussão no tópico: http://motoscustom.com.br/forum/
A Prefeitura de São Paulo incluiu a cobrança de pedágio urbano no edital da Secretaria de Transportes para um plano que visa a melhorar a fluidez do trânsito no chamado centro expandido, como mostrou o Estado (1/8). O fato de ter aparecido num documento técnico oficial, que incluiu a estimativa do custo de implantação (R$ 15 milhões) e sua área de impacto (233 quilômetros quadrados), mostra que o tema está no horizonte da administração municipal, a despeito da ojeriza que os governantes e os políticos em geral têm de discuti-lo abertamente, além do mais em ano de eleição.
O atual prefeito, Gilberto Kassab (PSD), já disse reiteradas vezes que o pedágio urbano não será aprovado em sua gestão. Segundo ele, é um "compromisso" assumido com a cidade.
A situação não deve mudar depois da eleição, pois os principais candidatos à sucessão de Kassab já manifestaram oposição à cobrança. Para Fernando Haddad (PT), por exemplo, o pedágio inibiria a "circulação de riqueza e de pessoas" na cidade - como se os congestionamentos já não fizessem isso todos os dias. José Serra (PSDB), por sua vez, defende, assim como Haddad, que é preciso primeiro melhorar muito o transporte coletivo - algo que dificilmente ocorrerá nesta era geológica - para só depois pensar em pedágio.
As reações políticas são compreensíveis, considerando-se as pesquisas de opinião que desde sempre mostram franca oposição dos paulistanos ao pedágio urbano, pois já convivem com inúmeras outras taxas e restrições ao tráfego.
Em janeiro, porém, a presidente Dilma Rousseff sancionou lei que autoriza as prefeituras a impor o pedágio, ressaltando a urgência do problema. Os prefeitos não tardaram a criticar as "contradições" do governo federal, que avalizou a limitação à circulação urbana dos automóveis ao mesmo tempo que, ao reduzir impostos, estimula a compra de carros.
Na Câmara Municipal de São Paulo, tramita um projeto que prevê a cobrança de R$ 4 como pedágio no centro expandido. O edital da Prefeitura menciona o valor de R$ 1. Para especialistas que defendem o pedágio, a tarifa ideal deve ser superior a R$ 4, pois algo abaixo disso acabaria sendo naturalmente incorporado pelos motoristas como apenas mais um gasto, ao lado dos custos de estacionamento, combustível e inspeção veicular.
Ou seja: não basta que haja o pedágio, é preciso que a tarifa seja de fato inibidora. Para os adversários da ideia da cobrança, uma tarifa cara atingiria somente os motoristas com menos recursos. "Quem é pobre e não conseguir pagar vai ceder todo o viário para os que têm condições", protestou Horácio Augusto Figueira, mestre em transportes pela USP.
No entanto, várias metrópoles do mundo já adotaram o pedágio urbano, e em alguns casos a tarifa ultrapassa o equivalente a R$ 25, como em Londres, sem grandes protestos - a redução imediata de 25% nos congestionamentos foi o bastante para convencer os londrinos do acerto da medida.
Em março passado, a cidade de São Paulo atingiu a marca de 7 milhões de veículos - que formariam uma fila de cerca de 21 mil quilômetros de extensão, para uma rede viária asfaltada de apenas 17 mil quilômetros e sem a respectiva integração com outros sistemas de transporte. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas mostrou que a cidade de São Paulo perde R$ 55 bilhões por ano e deixa de produzir R$ 27 bilhões graças aos congestionamentos.
Quase 70% dos paulistanos consideram o trânsito da capital "ruim ou péssimo", dizem pesquisas recentes, e em média o motorista gasta inacreditáveis 2 horas e 42 minutos para se deslocar diariamente.
Só esses números deveriam bastar para perceber a dimensão do problema. "O prejuízo que cada um de nós tem com a ausência de um pedágio urbano é bem maior do que o preço dele. São o tempo e a saúde perdidos", argumentou o arquiteto e urbanista Cândido Malta.
Resta esperar que, enfim, apareça algum administrador com coragem para deixar de lado considerações eleitoreiras e reconhecer que a limitação ao trânsito de carros no centro de São Paulo não é uma mera discussão bizantina. É uma necessidade inadiável.
<< Página inicial