terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Voluntários praticam motocross para levar ajuda às vítimas no RJ

por BBC Brasil

Centenas de voluntários têm ajudado a socorrer os atingidos pelas fortes chuvas na região serrana do Rio. São pessoas de todas as profissões, como médicos, enfermeiros e até praticantes de motocross, que ajudam a abrir caminhos em locais em que veículos normais não chegam.

Pelas ruas de Teresópolis, junto das ambulâncias, das viaturas da polícia e dos carros de bombeiros, também é marcante a presença desses ciclistas. São dezenas deles.

Um destes voluntários é o vendedor Vinícius Rangel, 34 anos, morador da cidade que já participou de inúmeras competições de enduro de regularidade, como o Rally dos Sertões.

É essa experiência em percorrer trilhas de moto faz com que os amantes deste esporte sejam úteis em situações como a da serra do Rio.

"A gente passa em lugares onde nem cavalo passa, nem helicóptero alcança", afirma Rangel. Segundo o voluntário, o caminho que leva a comunidades isoladas na localidade de Santa Rita foi aberta por motoqueiros, que andaram mata adentro e, munidos de facões, abriram uma picada para chegar aos desabrigados.

Além disto, os motoqueiros conseguem levar alimentos, água e remédios para as vítimas dos deslizamentos. Rangel não sabe

precisar quantos praticantes de enduro estão trabalhando em Teresópolis, mas ele diz que muitos deles são de outras cidades do Estado do Rio.

"Isso não tem preço pra gente", afirma o voluntário. "Isso é ajuda humanitária, um ajuda o outro."

Mudança de rota

Já o médico Tiago Santos, de 34 anos, veio de longe. Ele está em Teresópolis com uma equipe com mais três pessoas - um paramédico e dois motoristas - todos são da cidade de Sobral, no Ceará, e trabalham em uma empresa especializada em emergências médicas e remoção de pacientes.

Eles deixaram o Ceará em direção ao Rio em uma UTI móvel, transportando uma paciente que precisava de cuidados médicos específicos. Ao saber da situação na serra fluminense, Santos sugeriu ao presidente da empresa que ele e sua equipe fossem para lá, trabalhar como voluntários. O chefe aceitou, e todos foram para Teresópolis.

Santos é gaúcho, se formou em Medicina no Pará e se mudou para Sobral depois de formado. Ele afirma que está acostumado com o trabalho de voluntário. "Quando morei no Pará, fazia atendimentos na ilha de Marajó, em locais sem água e sem luz", disse à BBC Brasil.

A empresa para a qual Santos trabalha também já atuou em outros casos, como nas enchentes que atingiram Pernambuco em 2010.

As tarefas do voluntário Marcos Habib vão de servir de vigia em abrigos até consolar os desalojados

Vacinas

No bairro de Granja Florestal, em Teresópolis, ele realiza um atendimento clínico básico à população, fazendo diagnósticos e prescrevendo remédios. Ele atendeu mais de 15 pacientes entre a manhã e o início da tarde desta segunda-feira.

Segundo o médico, nenhum dos casos que ele viu era muito grave. O pior foi uma mulher com uma crise de asma, que foi colocada para repousar e receber soro. Além do atendimento clínico, a equipe do Ceará também ajuda na aplicação de vacinas, com a antitetânica.

Já a UTI móvel está em trabalho constante na região de Teresópolis. Na tarde desta segunda, ela foi acionada para buscar pessoas que estavam isoladas no bairro de Campo Grande. Santos afirma que, em casos mais graves, o veículo leva os pacientes para hospitais na capital.

Santos ainda não tem ideia de quando vai voltar para casa. O voluntário diz que, para dormir, se acomodará junto de sua equipe em locais cedidos pela Secretaria Municipal de Saúde. Vigia e consolo

"A palavra 'não' inexiste no meu vocabulário", diz o jornalista e professor de Teologia Marcos Habib, 21 anos. Morador de Teresópolis, ele atua como voluntário em diversas tarefas - desde carregar caminhões com mantimentos, chamar patrulhas pelo rádio, servir de vigia noturno em abrigos e até consolar os desalojados.

Habib afirma que "não havia chance" de ele não trabalhar como voluntário na ajuda às vítimas de Teresópolis. Segundo o jornalista, se Teresópolis tivesse sido poupada e a tragédia só ocorresse em outras cidades, ele também iria, sem titubear.

"Já me peguei chorando algumas vezes aqui", diz Habib, enquanto ajuda nos trabalhos no Ginásio Pedro Naher, o Pedrão, que serve de abrigo para dezenas de pessoas. Ele lembra de um desabrigado que, durante a madrugada, o chamou apenas para pedir um abraço. "Às vezes, as pessoas só querem um contato humano, um carinho."

O voluntário afirma que o trabalho mais duro que teve de desempenhar foi transportar remédios para a localidade de Cruzeiro, onde a queda de uma ponte deixou centenas de moradores isolados. "Tive que atravessar uma ponte improvisada, feita de madeira e de canos", lembra.

Habib perdeu dois primos em um deslizamento, no Morro do Espanhol. Ainda que tenham ocorrido mortes na família, ele afirma que não pretende descansar, mesmo ficando praticamente sem dormir durante dias. "O mundo precisa disso, que as pessoas ajudem umas às outras", diz. Add to Google
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