segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

A demofobia quer punir os motoqueiros

Correio do povo (RS)
por Hélio Gaspari

Surgiu uma nova forma de demofobia nas grandes cidades, a repressão aos motoqueiros. No Rio, o governador Sérgio Cabral gostaria de proibir que levassem gente na garupa. Em São Paulo, muitos vereadores querem a mesma coisa, articulando a derrubada de um veto de 2004 da prefeita Marta Suplicy. A defesa dessa providência tem uma atraente base estatística, pois, segundo a Polícia paulista, de cada dez roubos que ocorrem na cidade, seis envolvem motoqueiros. Seriam pouco mais de 9 mil.

Há 600 mil motos em São Paulo. Penalizar o motoqueiro que não assalta os outros, proibindo que usufrua o conforto de um veículo pelo qual pagou, é pura demofobia. Admitindo-se que cada moto-bandida seja usada em apenas dois roubos num ano, a relação das garupas paulistanas com a delinqüência fica em 1,4%. É um índice inferior ao dos ministros de Lula que foram indiciados em processos criminais (10%).

Percebe-se melhor o viés social da idéia sabendo-se que um deputado fluminense (Pedro Fernandes-Dem) apresentou um projeto (1.178/07) proibindo que motos com menos de 500 cilindradas carreguem gente na garupa. Assim, quem compra uma Suzuki de 125 cilindradas (R$ 5.300,00) não tem direito a garupa. Se quiser companhia, deve levar o modelo GS500E, de R$ 19.490,00.

Em vez de se olhar para os motoqueiros de baixa cilindrada como se fossem um estorvo, as cidades ficarão melhores se o poder público lhes der mais atenção. Toda vez que se pensa em motoqueiro, surge a idéia de proibi-lo de fazer isso ou aquilo. Mesmo os motoboys, que não carregam ninguém na garupa, são tratados como condutores de veículos de segunda categoria, intrometidos. Eles são mais de 1 milhão de brasileiros que ralam entregando papéis, pizzas e encomendas. Faturam entre R$ 500,00 e R$ 800,00 por mês, muitas vezes sem direito a nada.

Figuras diabólicas, freqüentemente malcriadas, movem-se em ziguezague e danificam os espelhos dos carros. Mesmo assim, asseguram pizzas quentes, bem como a produtividade de empresas que precisam de transporte rápido. Em São Paulo, morre um motoboy por dia, quase sempre sem seguro de vida.
O motoqueiro não é problema, é solução. Problemas são os engarrafamentos e a má qualidade do transporte público. 


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