segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Veículo elétrico vale a pena?


por CELSO , MING - O Estado de S.Paulo

Quem quer um carro elétrico quer um carro verde, um carro ecologicamente correto, que não polui nem contribui para o aquecimento do Planeta.

Mas estamos longe disso. Para ser ecologicamente correto, não basta que um automóvel não ejete gás carbônico (CO²) pelo escapamento. É preciso perguntar primeiro como é obtida a energia elétrica que o move. Hoje, nada menos que 81% da energia global provém da queima de derivados de petróleo e carvão. Não adianta grande coisa substituir o escapamento pela chaminé. A atenuante é a de que, nas centrais térmicas, o gás carbônico produzido pode ter controle mais eficiente do que o emitido pelos escapamentos.

No entanto, à medida que os motores à explosão na frota global de veículos fossem substituídos pelos elétricos, seria necessário ver de que modo seria gerada tanta energia elétrica. Ou seja, enquanto não se obtiver uma fonte não poluidora e renovável de energia, o carro elétrico enfrentará graves limitações.

Essas são objeções sérias ao "carro do futuro" - como o designa o brasileiro Carlos Ghosn, presidente do grupo Renault-Nissan. Mas há outras.

Há mais de dez anos, engenheiros e cientistas tentam desenvolver uma bateria eficiente, mas não foram muito longe. As mais avançadas pesam cerca de 500 quilos - trambolho que compromete o desempenho e a autonomia do veículo. Os entusiastas observam que essas coisas começam assim. Por exemplo, o primeiro computador ocupava o andar inteiro de um edifício; e os primeiros celulares eram um tijolão.

Em todo o caso, mesmo depois de progresso tecnológico, as baterias de computadores, celulares e câmeras fotográficas não conseguem armazenar energia mais do que para algumas horas de uso. E é preciso, também, resolver o problema do recarregamento.

Os que apostam no carro elétrico lembram que a recarga pode ser feita à noite. Ainda assim, cada garagem teria de ter instalações elétricas especiais que, provavelmente, implicariam aumento da capacidade de todo o sistema. Mas como resolver o problema de tantos edifícios e de tantas casas, no Brasil e no mundo, que não dispõem de garagem? E quem tem de deixar o carro na rua fará o quê?

A Renault desenvolveu projeto que prevê troca da bateria nos postos de combustível. Trata-se de operação que não leva mais do que alguns minutos. O problema aí é que a bateria corresponde a cerca de metade do preço do carro elétrico. Quem se sujeitaria a trocar um equipamento tão caro cujo estado de conservação não conhece? E qual seria a seguradora que daria cobertura a um veículo que, na primeira parada, poderia ser vítima de troca de gato por lebre?

Há ainda a questão da autonomia. Os carros elétricos não aguentam mais do que 140 km ou 150 km sem recarga. É claro, o avanço da tecnologia sempre poderá baixar esses números. Cabe perguntar, também, quem, afinal, precisaria de uma autonomia superior a 150 km por dia na cidade? Talvez os taxistas ou os entregadores. Ora, mesmo quem, na média, não roda mais do que 30 km por dia tem de estar preparado para viagens de 200 km ou 300 km. E não se pode desprezar os problemas causados pelo descarte das baterias. Hoje, a reciclagem das baterias dos celulares e dos computadores continua sem solução.

Finalmente, há o obstáculo do preço. Até agora não foram fabricados (e vendidos) carros elétricos por menos de R$ 120 mil por unidade - caros demais em comparação com os convencionais. Os poucos modelos vendidos na Europa e no Japão contam com subsídios de até US$ 6 mil cada um. Até quando os governos e instituições públicas podem pagar esse pedaço da conta para tornar o produto atraente?

Aí é preciso, sim, levar em conta cálculos de escala. A partir do dia em que uma montadora puder fazer ao menos metade de seus carros movidos à eletricidade, os preços ficarão mais baixos. Mas quanto mais baixos? Alguns lembram que a produção em massa de carros elétricos mudaria toda a indústria. Milhares de fábricas de autopeças desapareceriam. E uma rede de proporções não desprezíveis de empresas de manutenção (serviços de mecânica) teriam de se reciclar ou fechar as portas. Mas, convenhamos, é do jogo. Como tantas vezes é lembrado, a indústria de lâmpadas também levou à falência milhares de fabricantes de velas.

Enfim, o carro elétrico continua sendo uma aposta complicada. É por isso que algumas montadoras, como a Ford e a Toyota, fizeram outra opção: desenvolver carros híbridos, em que o motor elétrico é alimentado por energia gerada por queima de um combustível num motor à explosão.

Diante dessas e de outras eventuais considerações, por que não seguir apostando no carro a álcool, ao menos no Brasil?


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