Viagem de moto requer atenção aos pneus, intervalos e alongamento
Por Roberto Agresti - Colunista dá dicas de convivência com caminhões e outros veículos.
Para 'domar' a moto, ele recomenda a técnica contra-esterço.
Moto pronta, você pronto, a viagem vai começar. Como se comportar na estrada? Concentração máxima e respeito às regras é a receita óbvia, mas há algumas manhas que merecem ser destacadas ou relembradas.
As estradas brasileiras estão longe de poderem ser consideradas exemplares, – apenas 12,5% delas são asfaltadas. Assim, nem sempre sua meta de viagem será alcançada através de caminhos “bons”. Seja qual for seu roteiro, é preciso ter em mente alguns aspectos relevantes. Para começar com o pé direito uma viagem é uma boa atitude deixar de lado a empolgação e, logo nos primeiros quilômetros, sentir sua moto.
Como assim?
Seja ela sua velha companheira de aventuras ou uma nova montaria que você está estreando, é fundamental colocar todos os seus sentidos em alerta máximo para notar se tudo está OK. Excesso de confiança ou a euforia por finalmente estar na estrada podem levar a erros como desconsiderar sinais de má dirigibilidade que, em 99% dos casos, se devem ao ponto de contato de sua moto com o solo, os pneus.
Olho na calibragem dos pneus
Sim, eles podem ser bons, novos, de boa marca mas... e a pressão, lembrou dela da última vez quando? Descuidar da calibragem é um vício recorrente até mesmo dos mais experientes motociclistas. Porém, uma coisa é rodar com a pressão errada em trajetos curtos dentro da cidade, bem outra – e mais problemática – é fazer isso durante horas na estrada.
A pressão recomendada pelos fabricantes deve ser seguida quase que religiosamente, e esse “quase” implica em dizer que uma variação mínima não constitui pecado mortal, pelo contrário: será nestes primeiros quilômetros da viagem que você deverá perceber o comportamento de sua moto e, se for o caso, alterar a pressão até achar a medida mais adequada para a situação que você está enfrentando, considerando temperatura, tipo de estrada e carga.
É fundamental lembrar que a pressão dos pneus deve ser sempre regulada a frio, uma vez que com o uso o aquecimento falseia os dados, geralmente mostrando pressão superior da que você definiu na partida (se definiu, claro...), e os valores voltam ao normal assim que os pneus esfriam. Todavia, de um modo geral calibradores de postos de combustível são instrumentos de precisão com... bem pouca precisão! Uma boa atitude é ter seu próprio calibrador, porém, mais do que confiar no ponteirinho ou no mostrador digital, um motociclista deve aprender a sentir sua moto.
Como alterar a pressão
Se após meia hora rodando você perceber que ela está arisca demais, vale a pena baixar minimamente a pressão, assim como, se a moto estiver respondendo lentamente aos comandos do guidão, a melhor ação é a inversa, ou seja, elevar a calibragem. Mais carga (garupa e bagagem) e altas temperaturas do verão tropical são fatores que aconselham maior pressão, mas nada de exageros.
O limite recomendado pelo fabricante jamais poderá ser excedido em mais do que 2 ou 3 psi (ou lb/pol3). Com pressão acima da indicada, a moto reagirá mais prontamente aos comandos e isso pode ser adequado, por exemplo, em uma estrada sinuosa e com asfalto de boa qualidade, oferecendo pilotagem mais precisa.
Todavia, se o asfalto for ruim, com rachaduras, emendas e buracos, maior pressão fará os pneus “lerem” demais as irregularidades do piso, transmitindo as imperfeições ao guidão. Ou seja, pressão maior, conforto menor.
Há situação quando é vantajoso diminuir a pressão para valores abaixo dos recomendados pelos fabricantes? Sim, quando o asfalto estiver molhado: com eles menos inflados a área de contato com o solo aumenta, favorecendo a aderência. Em piso de terra a regra também é reduzir a pressão. Se o terreno for compacto, basta um pouco menos do que o recomendado, enquanto que na areia ou lama vale a pena reduzir as cifras de modo significativo. Quanto? Varia de moto para moto, estilo de tocada e etc., mas variações de até 5 a 8 lb/pol3 inferiores são aceitáveis para “areião” ou lama.
Mas lembre-se: ao deixar o piso molhado e/ou terra e lama, volte à pressão aos valores normais já que pneus vazios se aquecem exageradamente, o que causa desgaste além de se tornarem mais sujeitos a danos. Levar uma pequena bomba manual, dessas de bicicleta, é altamente recomendável. Outra dica importante para a tocada em estradas de terra ou areia é lembrar que a roda dianteira precisa sempre “flutuar”, e para tal é necessário manter aceleração constante e, se possível, deslocar o peso para a parte traseira da moto. Quem faz trilha sabe como deixar a roda dianteira “soltinha” nesses pisos moles ajuda a preservar os dentes na boca...
Paradas são importantes
Partindo da premissa de que você está plenamente confortável e habituado à sua motocicleta, e de que um eventual passageiro ou passageira seja alguém que não está em sua primeira viagem de moto, ou seja, não há tensão nem comportamentos inadequados a serem abolidos/ajustados, uma tocada segura exige uma parada a cada hora e meia ou duas de viagem. Para que? Abastecer, fazer uma inspeção visual na moto e ao mesmo tempo se hidratar, e o oposto, aproveitar para fazer xixi.
Esticar as pernas, alongar os músculos que ficaram “engessados” é de lei. Uma cena comum na mente de quem já assistiu pela TV ou ao vivo uma corrida do Mundial de MotoGP é o campeoníssimo Valentino Rossi se agachando ao lado de sua moto, de cócoras, com as mãos na pedaleira. Muitos acham ser esse um ritual supersticioso do astro italiano, mas o fato é que o alongamento corporal que esse movimento proporciona é um passaporte para fugir das tão temidas câimbras. Imitar isso ajuda a encarar quilômetros sem problemas musculares.
Posição de pilotagem
Outra boa dica é alterar a posição de pilotagem durante o período de tocada. Em uma estrada cheia de curvas, isso ocorre quase que naturalmente, mas em longos trechos com retas longas e sucessivas é necessário buscar posicionamentos que alterem nem que seja minimamente o ângulo dos braços, pernas e o seu ponto de apoio com o banco.
Porém, atenção: nesses movimentos jamais assuma posições nas quais não tenha pleno acesso aos comandos de mão (embreagem, acelerador e freio dianteiro) ou pés (câmbio e freio traseiro). Pode parecer tremendamente óbvia esta informação, mas no comando de uma motocicleta o pacto com a concentração e a segurança deve ser de 100%, e durante 100% do tempo. Deste modo, nunca exija demais de seu corpo, e lembre que seus reflexos, por melhores que sejam, diminuem com o cansaço.
O contra-esterço
Um aspecto comentado linhas atrás merece ser enfatizado: os motociclistas mais experientes sabem que a moto e seu condutor devem formar um conjunto único para que a coisa toda funcione. Que coisa? A mágica harmonia entre homem e máquina, que resulta em tremenda sensação de prazer com segurança, e oferece pilotagem fluida e segura. Para chegar a esse estágio, o tempo de guidão pode ser substituído por técnicas, e uma delas, mencionada acima, é o contra-esterço.
Não sei de nenhuma moto-escola que informe seus alunos sobre tal “manha”, que por outro lado é enfatizada desde a primeira aula prática dos cursos de pilotagem em pista.
O que é? É simplesmente forçar o guidão para o lado oposto ao da curva, e perceber magicamente como a moto reage de maneira peculiar, mergulhando para a necessária inclinação. Outra recomendação importante é relativa aos joelhos e pernas, que especialmente em curvas devem pressionar o tanque: curva para a esquerda? Pressione o tanque com o joelho direito, e vice-versa...
E os outros?
Você pode ser um dos mais cuidadosos motociclistas da face da Terra, mas na estrada raramente estará só. Outras motos, carros, ônibus e caminhões são obstáculos móveis com os quais você deverá conviver, além dos pedestres e animais que costumam aparecer nos piores lugares e piores horas.
Fundamental é saber se posicionar na estrada. Sempre que possível, fique longe de veículos maiores do que o seu. Calcule a ultrapassagem para que ela ocorra o mais rápido possível, e que te dê a chance de “sumir” rapidinho. Uma grande besteira é passar um carro ou caminhão e ter que imediatamente frear seja por conta de uma curva ou um outro obstáculo qualquer.
Ver é evidentemente importante, mas ser visto é crucial, e assim fuja de posicionamentos nos quais o motorista não te veja. Como fazer isso? Simples: tente ver o rosto de quem dirige pelos espelhos retrovisores do veículo à sua frente. Se você o vê, ele também poderá te ver.
Uma atitude saudável ao guidão é ser totalmente pessimista, se preparar para que tudo dê errado em todas as situações possíveis. Esse exercício mental pode parecer contraproducente, “chamando azar”, dizem alguns. Nada disso: trata-se apenas de se preparar mentalmente para situações de risco.
“E se depois dessa curva houver um trator atravessando a estrada a 3 km/h?” Esse é um pensamento bom para se ter rodando em uma estrada rural que não são conhece. “E se no topo do ladeirão aparecer um caminhão ultrapassando outro?” Pois é... pensar no improvável (que nem sempre é tão improvável assim) sempre te deixará alerta, e a fragilidade de nós, motociclistas, face aos outros meios de transporte não é algo contestável, mas um fato a ser sempre lembrado.
Uma das mais simples recomendações é sempre rodar seguindo o rastro dos pneus do veículo que vai à sua frente, especialmente se este for grande e não te permitir enxergar a pista adiante dele. Rodar atrás de um caminhão, bem no meio dele, pode lhe trazer uma surpresa sob forma de um obstáculo qualquer que quem vai à frente simplesmente preferiu “sobrevoar”.
Outros veículos geram turbulência
Um susto que atinge os novatos que encaram estradas ao guidão, especialmente de motos pequenas, é a “parede” de ar turbulento encontrada ao ultrapassar veículos de grande porte. Quanto maior a velocidade, maior será a turbulência, e não há nada de muito especial a fazer a não ser se preparar para a chacoalhada, mantendo o guidão firme nas mãos, os joelhos pressionando o tanque e pés apertando a moto como as botas de um peão de rodeio fazem no cavalo chucro.
Empurrar levemente a ponta direita do guidão (quando a ultrapassagem é como manda a lei, pela esquerda) também ajuda, mas isso tem de acontecer de maneira coordenada, no exato momento em que você entrar no turbilhão, e por um breve instante, só para compensar o empurrão que em caso extremos pode fazer sua trajetória se alterar um metro ou mais se você estiver vacilão sobre a moto.
E se chover?
A tática de seguir o rastro de pneus alheios é também especialmente recomendável em pista molhada, já que isso fará com que os pneus de sua moto encarem uma camada de água certamente menos espessa do que o caminho fora do “trilho” deixado pelo veículo à frente.
Todavia, essa técnica demanda bom senso: em pista molhada, motos em geral freiam em espaços maiores que carros, e isso exige manter uma distância de segurança ainda maior que no piso seco. Outro problema é o spray de água levantado pelos pneus dos veículos à frente, que obriga à uma avaliação da distância na qual você pode conciliar a melhor visibilidade possível com a chance de seguir o tal trilho dos pneus.
Objetos 'voadores'
Do mesmo modo que é importante prestar atenção no piso, seguir trilhas já “pisadas” por outros pneus, é preciso estar alerta ao que vem pelo ar, seja ele saído de caçambas de caminhões, de janelas de ônibus ou carros. Voa de tudo na estrada, boa parte arremessada por gente que desconhece regras de educação e desconsidera a fragilidade de um motociclista.
Estar atento é o único modo de se safar de detritos. Uma latinha de cerveja batendo nos seus dedos a 80/km, uma bituca de cigarro entrando pela fresta de sua viseira ou, em caso extremo, a brita de um caminhão basculante te metralhando são outros exemplos de acidentes que podem acabar com sua viagem em segundos. Há casos extremos como o da última terça (31), em que um casal morreu no interior de SP depois de tentar desviar o carro de um fogão que caiu de outro automóvel.
Evite a noite
Pilotar à noite é algo para se evitar. Sua visão e seus faróis podem ser impecáveis, mas é inegável que a vantagem de haver menos tráfego não é compensada pela visibilidade limitada. Busque tornar esses episódios de tocada noturna mínimos, mas se for realmente inevitável, ligue seus sentidos no nível máximo, inclusive o olfato: mais de um já escapou da armadilha do óleo diesel derramado na pista por caminhões abastecidos de maneira excessiva simplesmente porque sentiu o cheiro característico deste combustível.
Adotar uma postura vigilante e ativa na estrada tornará a viagem, curta média ou longa, mais segura. Prever problemas, sentir qual o melhor comportamento de sua moto, praticar a pilotagem defensiva e conhecer algumas técnicas básicas de condução fará você aproveitar melhor a paisagem e a convivência com sua moto, e certamente resultará em uma viagem melhor. Fonte: G1.com
Visite o fórum e participe dos debates:
http://motoscustom.com.br/forum/
Moto pronta, você pronto, a viagem vai começar. Como se comportar na estrada? Concentração máxima e respeito às regras é a receita óbvia, mas há algumas manhas que merecem ser destacadas ou relembradas.
As estradas brasileiras estão longe de poderem ser consideradas exemplares, – apenas 12,5% delas são asfaltadas. Assim, nem sempre sua meta de viagem será alcançada através de caminhos “bons”. Seja qual for seu roteiro, é preciso ter em mente alguns aspectos relevantes. Para começar com o pé direito uma viagem é uma boa atitude deixar de lado a empolgação e, logo nos primeiros quilômetros, sentir sua moto.
Como assim?
Seja ela sua velha companheira de aventuras ou uma nova montaria que você está estreando, é fundamental colocar todos os seus sentidos em alerta máximo para notar se tudo está OK. Excesso de confiança ou a euforia por finalmente estar na estrada podem levar a erros como desconsiderar sinais de má dirigibilidade que, em 99% dos casos, se devem ao ponto de contato de sua moto com o solo, os pneus.
Olho na calibragem dos pneus
Sim, eles podem ser bons, novos, de boa marca mas... e a pressão, lembrou dela da última vez quando? Descuidar da calibragem é um vício recorrente até mesmo dos mais experientes motociclistas. Porém, uma coisa é rodar com a pressão errada em trajetos curtos dentro da cidade, bem outra – e mais problemática – é fazer isso durante horas na estrada.
A pressão recomendada pelos fabricantes deve ser seguida quase que religiosamente, e esse “quase” implica em dizer que uma variação mínima não constitui pecado mortal, pelo contrário: será nestes primeiros quilômetros da viagem que você deverá perceber o comportamento de sua moto e, se for o caso, alterar a pressão até achar a medida mais adequada para a situação que você está enfrentando, considerando temperatura, tipo de estrada e carga.
É fundamental lembrar que a pressão dos pneus deve ser sempre regulada a frio, uma vez que com o uso o aquecimento falseia os dados, geralmente mostrando pressão superior da que você definiu na partida (se definiu, claro...), e os valores voltam ao normal assim que os pneus esfriam. Todavia, de um modo geral calibradores de postos de combustível são instrumentos de precisão com... bem pouca precisão! Uma boa atitude é ter seu próprio calibrador, porém, mais do que confiar no ponteirinho ou no mostrador digital, um motociclista deve aprender a sentir sua moto.
Como alterar a pressão
Se após meia hora rodando você perceber que ela está arisca demais, vale a pena baixar minimamente a pressão, assim como, se a moto estiver respondendo lentamente aos comandos do guidão, a melhor ação é a inversa, ou seja, elevar a calibragem. Mais carga (garupa e bagagem) e altas temperaturas do verão tropical são fatores que aconselham maior pressão, mas nada de exageros.
O limite recomendado pelo fabricante jamais poderá ser excedido em mais do que 2 ou 3 psi (ou lb/pol3). Com pressão acima da indicada, a moto reagirá mais prontamente aos comandos e isso pode ser adequado, por exemplo, em uma estrada sinuosa e com asfalto de boa qualidade, oferecendo pilotagem mais precisa.
Todavia, se o asfalto for ruim, com rachaduras, emendas e buracos, maior pressão fará os pneus “lerem” demais as irregularidades do piso, transmitindo as imperfeições ao guidão. Ou seja, pressão maior, conforto menor.
Há situação quando é vantajoso diminuir a pressão para valores abaixo dos recomendados pelos fabricantes? Sim, quando o asfalto estiver molhado: com eles menos inflados a área de contato com o solo aumenta, favorecendo a aderência. Em piso de terra a regra também é reduzir a pressão. Se o terreno for compacto, basta um pouco menos do que o recomendado, enquanto que na areia ou lama vale a pena reduzir as cifras de modo significativo. Quanto? Varia de moto para moto, estilo de tocada e etc., mas variações de até 5 a 8 lb/pol3 inferiores são aceitáveis para “areião” ou lama.
Mas lembre-se: ao deixar o piso molhado e/ou terra e lama, volte à pressão aos valores normais já que pneus vazios se aquecem exageradamente, o que causa desgaste além de se tornarem mais sujeitos a danos. Levar uma pequena bomba manual, dessas de bicicleta, é altamente recomendável. Outra dica importante para a tocada em estradas de terra ou areia é lembrar que a roda dianteira precisa sempre “flutuar”, e para tal é necessário manter aceleração constante e, se possível, deslocar o peso para a parte traseira da moto. Quem faz trilha sabe como deixar a roda dianteira “soltinha” nesses pisos moles ajuda a preservar os dentes na boca...
Paradas são importantes
Partindo da premissa de que você está plenamente confortável e habituado à sua motocicleta, e de que um eventual passageiro ou passageira seja alguém que não está em sua primeira viagem de moto, ou seja, não há tensão nem comportamentos inadequados a serem abolidos/ajustados, uma tocada segura exige uma parada a cada hora e meia ou duas de viagem. Para que? Abastecer, fazer uma inspeção visual na moto e ao mesmo tempo se hidratar, e o oposto, aproveitar para fazer xixi.
Esticar as pernas, alongar os músculos que ficaram “engessados” é de lei. Uma cena comum na mente de quem já assistiu pela TV ou ao vivo uma corrida do Mundial de MotoGP é o campeoníssimo Valentino Rossi se agachando ao lado de sua moto, de cócoras, com as mãos na pedaleira. Muitos acham ser esse um ritual supersticioso do astro italiano, mas o fato é que o alongamento corporal que esse movimento proporciona é um passaporte para fugir das tão temidas câimbras. Imitar isso ajuda a encarar quilômetros sem problemas musculares.
Posição de pilotagem
Outra boa dica é alterar a posição de pilotagem durante o período de tocada. Em uma estrada cheia de curvas, isso ocorre quase que naturalmente, mas em longos trechos com retas longas e sucessivas é necessário buscar posicionamentos que alterem nem que seja minimamente o ângulo dos braços, pernas e o seu ponto de apoio com o banco.
Porém, atenção: nesses movimentos jamais assuma posições nas quais não tenha pleno acesso aos comandos de mão (embreagem, acelerador e freio dianteiro) ou pés (câmbio e freio traseiro). Pode parecer tremendamente óbvia esta informação, mas no comando de uma motocicleta o pacto com a concentração e a segurança deve ser de 100%, e durante 100% do tempo. Deste modo, nunca exija demais de seu corpo, e lembre que seus reflexos, por melhores que sejam, diminuem com o cansaço.
O contra-esterço
Um aspecto comentado linhas atrás merece ser enfatizado: os motociclistas mais experientes sabem que a moto e seu condutor devem formar um conjunto único para que a coisa toda funcione. Que coisa? A mágica harmonia entre homem e máquina, que resulta em tremenda sensação de prazer com segurança, e oferece pilotagem fluida e segura. Para chegar a esse estágio, o tempo de guidão pode ser substituído por técnicas, e uma delas, mencionada acima, é o contra-esterço.
Não sei de nenhuma moto-escola que informe seus alunos sobre tal “manha”, que por outro lado é enfatizada desde a primeira aula prática dos cursos de pilotagem em pista.
O que é? É simplesmente forçar o guidão para o lado oposto ao da curva, e perceber magicamente como a moto reage de maneira peculiar, mergulhando para a necessária inclinação. Outra recomendação importante é relativa aos joelhos e pernas, que especialmente em curvas devem pressionar o tanque: curva para a esquerda? Pressione o tanque com o joelho direito, e vice-versa...
E os outros?
Você pode ser um dos mais cuidadosos motociclistas da face da Terra, mas na estrada raramente estará só. Outras motos, carros, ônibus e caminhões são obstáculos móveis com os quais você deverá conviver, além dos pedestres e animais que costumam aparecer nos piores lugares e piores horas.
Fundamental é saber se posicionar na estrada. Sempre que possível, fique longe de veículos maiores do que o seu. Calcule a ultrapassagem para que ela ocorra o mais rápido possível, e que te dê a chance de “sumir” rapidinho. Uma grande besteira é passar um carro ou caminhão e ter que imediatamente frear seja por conta de uma curva ou um outro obstáculo qualquer.
Ver é evidentemente importante, mas ser visto é crucial, e assim fuja de posicionamentos nos quais o motorista não te veja. Como fazer isso? Simples: tente ver o rosto de quem dirige pelos espelhos retrovisores do veículo à sua frente. Se você o vê, ele também poderá te ver.
Uma atitude saudável ao guidão é ser totalmente pessimista, se preparar para que tudo dê errado em todas as situações possíveis. Esse exercício mental pode parecer contraproducente, “chamando azar”, dizem alguns. Nada disso: trata-se apenas de se preparar mentalmente para situações de risco.
“E se depois dessa curva houver um trator atravessando a estrada a 3 km/h?” Esse é um pensamento bom para se ter rodando em uma estrada rural que não são conhece. “E se no topo do ladeirão aparecer um caminhão ultrapassando outro?” Pois é... pensar no improvável (que nem sempre é tão improvável assim) sempre te deixará alerta, e a fragilidade de nós, motociclistas, face aos outros meios de transporte não é algo contestável, mas um fato a ser sempre lembrado.
Uma das mais simples recomendações é sempre rodar seguindo o rastro dos pneus do veículo que vai à sua frente, especialmente se este for grande e não te permitir enxergar a pista adiante dele. Rodar atrás de um caminhão, bem no meio dele, pode lhe trazer uma surpresa sob forma de um obstáculo qualquer que quem vai à frente simplesmente preferiu “sobrevoar”.
Outros veículos geram turbulência
Um susto que atinge os novatos que encaram estradas ao guidão, especialmente de motos pequenas, é a “parede” de ar turbulento encontrada ao ultrapassar veículos de grande porte. Quanto maior a velocidade, maior será a turbulência, e não há nada de muito especial a fazer a não ser se preparar para a chacoalhada, mantendo o guidão firme nas mãos, os joelhos pressionando o tanque e pés apertando a moto como as botas de um peão de rodeio fazem no cavalo chucro.
Empurrar levemente a ponta direita do guidão (quando a ultrapassagem é como manda a lei, pela esquerda) também ajuda, mas isso tem de acontecer de maneira coordenada, no exato momento em que você entrar no turbilhão, e por um breve instante, só para compensar o empurrão que em caso extremos pode fazer sua trajetória se alterar um metro ou mais se você estiver vacilão sobre a moto.
E se chover?
A tática de seguir o rastro de pneus alheios é também especialmente recomendável em pista molhada, já que isso fará com que os pneus de sua moto encarem uma camada de água certamente menos espessa do que o caminho fora do “trilho” deixado pelo veículo à frente.
Todavia, essa técnica demanda bom senso: em pista molhada, motos em geral freiam em espaços maiores que carros, e isso exige manter uma distância de segurança ainda maior que no piso seco. Outro problema é o spray de água levantado pelos pneus dos veículos à frente, que obriga à uma avaliação da distância na qual você pode conciliar a melhor visibilidade possível com a chance de seguir o tal trilho dos pneus.
Objetos 'voadores'
Do mesmo modo que é importante prestar atenção no piso, seguir trilhas já “pisadas” por outros pneus, é preciso estar alerta ao que vem pelo ar, seja ele saído de caçambas de caminhões, de janelas de ônibus ou carros. Voa de tudo na estrada, boa parte arremessada por gente que desconhece regras de educação e desconsidera a fragilidade de um motociclista.
Estar atento é o único modo de se safar de detritos. Uma latinha de cerveja batendo nos seus dedos a 80/km, uma bituca de cigarro entrando pela fresta de sua viseira ou, em caso extremo, a brita de um caminhão basculante te metralhando são outros exemplos de acidentes que podem acabar com sua viagem em segundos. Há casos extremos como o da última terça (31), em que um casal morreu no interior de SP depois de tentar desviar o carro de um fogão que caiu de outro automóvel.
Evite a noite
Pilotar à noite é algo para se evitar. Sua visão e seus faróis podem ser impecáveis, mas é inegável que a vantagem de haver menos tráfego não é compensada pela visibilidade limitada. Busque tornar esses episódios de tocada noturna mínimos, mas se for realmente inevitável, ligue seus sentidos no nível máximo, inclusive o olfato: mais de um já escapou da armadilha do óleo diesel derramado na pista por caminhões abastecidos de maneira excessiva simplesmente porque sentiu o cheiro característico deste combustível.
Adotar uma postura vigilante e ativa na estrada tornará a viagem, curta média ou longa, mais segura. Prever problemas, sentir qual o melhor comportamento de sua moto, praticar a pilotagem defensiva e conhecer algumas técnicas básicas de condução fará você aproveitar melhor a paisagem e a convivência com sua moto, e certamente resultará em uma viagem melhor. Fonte: G1.com
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